#02 – escola estadual professor leopoldo pereira.

Terça feira, 22 de abril.
(primeira projeção pra valer)

Além dos finais de semana especiais e feriados, a vida noturna em Milho Verde é praticamente inexistente. Eu, depois de minhas várias estadias por lá, já entendia isso, mas foi somente nesse momento em que a noite me interessava particularmente que tive noção do quão deserta ficam as ruas assim que o sol se põe.

Passei um tempo pensando sobre isso, tentando identificar quais seriam os lugares que mesmo depois das 18h teriam um movimento de pessoas, pelo menos passantes, para que a intervenção intervisse. Quando um amigo me sugeriu a hora de saída dos alunos do turno noturno da escola de Milho Verde, fiquei entusiasmada. Cheguei a imaginar que as projeções poderiam ser sempre lá, atuando especificamente com o grupo adolescente milhoverdense, que tem sido motivo de muita discussão, em relação à falta de interesses, de envolvimento com questões comunitárias, etecétera.

Combinei com a diretora da escola que ela abriria a porta 5 minutos antes do sinal (às 21h40min), para que eu ligasse a extensão na tomada. Isso de ter uma hora certa, tempo contado e combinações secretas criou uma expectativa (em mim) e ressaltou a idéia de intervenção… tudo talvez um pouco romantizado… mas ainda assim.

Preparei imagens de um banco da Praça da Liberdade, com pessoas chegando e saíndo sucessivamente; placas de trânsito, com símbolos de pedestres e ciclovias; um sinal luminoso de pedestres, no seu ritmo convencional de alternância aberto-fechado e, para terminar, um ponto de ônibus muito movimentado do centro de Belo Horizonte.

Imaginei que as pessoas, saindo da escola, passariam necessariamente pela rua onde estávamos e, se deparando com as imagens, poderiam observá-las, continuar conversando com os amigos, algumas talvez já fossem andando e, por isso, eu planejava me movimentar, passeando com a projeção pelas fachadas e muros das casas ao redor, um telefone público e a traseira do ônibus escolar que esperava estacionado. Para cada imagem eu já tinha selecionado um lugar específico. Mas não foi assim.

O sinal bateu.
O motor do ônibus ligou.
O projetor acendeu.

Uma nuvem de adolescentes veio descendo a rua, e, desesperados para irem embora, foram passando pelas imagens, câmeras, projetor e nós mesmos, sem qualquer observação. Fomos totalmente ignorados. Como se aquilo fosse para eles a coisa mais corriqueira do mundo.

Eu, com projetor na mão, de inicio mantive a projeção da primeira imagem na fachada de uma casa, como tinha planejado. Mas logo me veio a necessidade de movimentar o projetor, pra tentar interagir com o movimento dos meninos, pra trazer alguma interação, se não era deles comigo, que partisse de mim para eles. Comecei a projetar no chão por onde passavam, no morro e até neles, nas camisas. A imagem do banco de praça mudou para a do sinal de pedestre e os bonequinhos verde e vermelho iam se misturando às pessoas, seguindo-as. A imagem não ficou nítida o suficiente no ônibus, mas uma kombi estacionou bem próximo ao local em que estávamos e deu um efeito interessante, talvez o melhor conseguido. As pessoas iam entrando na kombi e passando através da imagem.

Mas tudo durou muito pouco tempo. Cinco minutos após o sinal, a rua já estava deserta e só restamos nós mesmos e o ponto de ônibus que, projetado num muro, encaixou perfeitamente: tamanho, luz, composição. Parecia mesmo estar ali.

Logo após o acontecido, eu não posso negar que me senti frustrada.
Tive medo de nada dar certo, dessas intervenções não fazerem sentido nenhum em um lugar como Milho Verde.

Mas isso foi bom na verdade para perceber, já de início, que minha concepção de inserção da imagem no ambiente teria que ser repensada. A inserção mais importante não é em relação à composição espacial, à simulação, à sensação de presença. E sim, a adequação ou não da imagem com o clima do momento. A dispersão ou a concentração das pessoas no local influem no ritmo da imagem, na sua movimentação…. Então, nesse ponto, a intervenção na escola foi sim muito positiva. É uma relação que não deve se dar só com o espaço, mas com o espaço conjugado com o tempo.

Anotações:
PONTO IMPORTANTE.
A imagem fantasma, flutuante, explicita sua dimensão gráfica, um objeto, construído, conformado, manipulado…. Mas a tentativa não é exatamente causar o contrario? A simulação, a inserção, a dissolução no espaço? As duas coisas estão presentes, apesar de parecerem antagônicas.

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